Quando lemos muito sobre um assunto, até esquecemos que alguém pode não conhecer termos que são simples, não é? E sei que, além das viciadas em romances regenciais, esse blog recebe visitas de gente que talvez nem faça ideia do que é essa tal de Era Regencial. Por isso, hoje vou explicar:
O período regencial a que refiro é o do Reino Unido (o Brasil também teve um, caso você não se lembre, quando D. Pedro II era novo demais para o trono)

Em 1810, o rei era George III, mas ele tinha uma saúde delicada e já estava considerado louco e instável para ser o governante, contando há anos com a ajuda de seu filho George (quanta criatividade pra nomes), então Príncipe de Gales. Impossibilitado de governar por constantes recaídas, em 1811 instaurou-se uma regência e Gales assumiu o trono como príncipe regente, posto que ocupou até 29 de janeiro de 1820, quando George III morreu e ele foi coroado como George IV.
Entretanto, historicamente, essa fase é contada de 1795 até 1837, englobando o declínio do reinado de George III, todo o reinado de George IV e também de William IV. O período regencial se encerra oficialmente com a coroação da Rainha Vitória, neta de George III, iniciando a Era Vitoriana (que diferia muito em estilo, costumes e moral da sociedade regencial).
Mas por que esse período ficou tão famoso?
Porque os costumes britânicos em diversas esferas da sociedade foram fortemente moldados nessa fase, que englobou todos esses reinados que falei acima. Tendências de arquitetura, literatura, moda, política e cultura foram muito características enquanto (e depois que) Prinny, apelido do Príncipe de Gales, esteve no poder, influenciando muito a moral e costumes da época, para além dos 9 anos de regência política.
A estética do belo tomou força, o Romantismo estava a todo vapor na literatura e Jane Austen era um sucesso. Já parou pra pensar que, quando foi publicado em 1813, Orgulho e Preconceito era apenas um romance contemporâneo?
Foi nessa época que os aristocratas pararam de empoar os cabelos ou usar perucas brancas, motivados principalmente pelo preço dos pós coloridos. A beleza natural, campestre, era mais valorizada. Por isso, os vestidos perderam a pomposidade e artificialidade no quadril e em seu lugar entrou a simplicidade, a elegância e a cintura império (O filme Orgulho e Preconceito, de 2005, tem figurinos incríveis que retratam muito bem essa moda). Os vestidos não eram tão estruturados e os tecidos eram mais leves, também com menos camadas – alguns chegavam a serem considerados extremamente reveladores. Por isso, a Rainha Charlotte (consorte de George III e mãe de Prinny) não aceitava que essa moda fosse usada na corte – as mocinhas, inclusive, precisavam de vestidos assim para fazer a apresentação à Rainha.
Os homens passaram a se vestir com as roupas do campo, abandonando a ostentação que era tipicamente usada em Londres. Por outro lado, havia os Dândis. Apesar de seguirem essa estética simplista, as peças de roupa -calça, camisa, colete, gravata/lenço e casaco) invariavelmente eram de cores diferentes (alguns usavam cores bem diferentes umas das outras) e todo o caimento deveria ser impecável. Os dândis eram conhecidos por terem um ar esnobe, com lenços cheios de rendas e babados. O que muita gente não imagina é que esse nariz empinado todo era, até certo ponto, culpa das gravatas: de tão engomadas, era impossível abaixar muito ou virar a cabeça para os lados. A moda regencial rende um post inteiro, no futuro falarei mais sobre isso.

A arquitetura foi marcada pela efetivação de diversos planos para urbanizar melhor Londres (que datavam desde o Grande Incêndio). O arquiteto John Nash, queridinho de Prinny, foi o responsável pela mudança de muitas ruas, inclusive a famosa Regent’s Street. Ele até reformou o Buckingham Palace, que na época se chamava Buckingham House e era residência privada da Rainha Charlotte, mãe do regente, e que era bem diferente do que conhecemos hoje como a casa da Rainha Elisabeth!

A sociedade estava cheia de jovens nobres (homens e mulheres) que viviam uma vida sem muito objetivo a não ser se divertir entre uma festa e outra, apostar dinheiro em diversos tipos de jogos de azar, ir a caçadas de campo e flertar sem compromisso. O próprio príncipe regente e Beau Brummel, amigo de Prinny, são exemplos desse tipo de comportamento que vemos com tanta frequência nos livros.
Foi uma época altamente marcada pela guerra também, já que as ilhas britânicas estavam em conflito com a França desde 1793 e seguiram lutando contra o domínio de Napoleão Bonaparte quando este se tornou imperador (e quis tacar fogo no continente). Então, esse tipo de comportamento de parte da alta classe era visto com maus olhos, mas era reflexo dos hábitos do regente. De certa forma, poderia ser uma forma de escape aos horrores da guerra e da perda de filhos e parentes. São panos de fundo que vemos com frequência nos romances. Alguns livros, como Ligeiramente Pecaminosos, de Mary Balogh, e The Soldier, de Grace Burrowes, mostram bem a loucura que foram as Guerras Napoleônicas.
Eu procurei a cronologia de alguns livros, pra saber se eles foram mesmo ambientados na Era Regencial. Os Bridgertons, da Julia Quinn, por exemplo, começam a série em 1813, mas o último neto Bridgerton nasce em 1840, já na Era Vitoriana. Entretanto, fique tranquila, os romances Bridgertons se desenvolvem no período considerado regencial!
De cabeça, não lembro de nenhuma outra série que se estenda tanto pelos anos, passando por essas fases, mas é claro que deve ter, rs. Se você se lembrar, me conta aí nos comentários!
O período Regencial na Inglaterra equivale ao Diretório na França?
Mais ou menos. Ele começa oficialmente em 1811, quando o Rei George III foi declarado incapaz de governar e durou até 1820. O Diretorio começou um pouco antes, na década de 1790, mas tanto a moda como os ideiais eram muito parecidos nesse periodo para ambos os países.