Dizer que Londres é uma cidade com muita água pode parecer estranho, mas é verdade.. O Rio Tâmisa corta a cidade e canais se espalham por diversos bairros. Um dos parques mais famosos da capital não poderia deixar de ter o seu “pedacinho de água”. Mas, você sabia que ele não é um lago totalmente natural?

Ele foi represado em 1730, a partir do comando da Rainha Caroline, esposa de George II, em uma remodelação do terreno que dividiu o Kensington Garden do restante do Hyde Park. O lago foi criado a partir das fontes do rio Westbourne e riacho Tyburn, ambos subterrâneos. Na verdade, esses rios já formavam alguns pequenos lagos espalhados pelo parque, o projeto apenas o ampliou.
O design foi feito pelo jardineiro Real Charles Bridgeman, que, além do Serpentine, é o responsável pelo Round Pond, em frente ao Kensington Palace. A criação fez um sucesso absurdo, pois, na época, os lagos artificiais eram realmente… artificiais. Esse foi o primeiro a ter um formato fluido, aparentemente feito pela natureza. O nome Serpentine vem da maneira sinuosa que ele tomou, mesmo que tenha apenas uma curva acentuada.

O lago era muito famoso na Era Regencial e, inclusive, em 1814, foi palco da encenação da Batalha de Trafalgar, uma das grandes vitórias navais da armada britânica nas Guerras Napoleônicas, que aconteceu em 1805 e consagrou o Almirante Nelson como herói sangue nos zoio (a história dele é fantástica, qualquer dia faço um post!).
Por sua proximidade com a Rotten Row, ele aparece bastante nos romances de época! Inclusive, uma das minhas cenas favoritas, de O Visconde que me Amava, da Julia Quinn, acontece ali. Quem leu com certeza vai se lembrar de Kate Sheffield correndo atrás de Newton, o gorducho corgi da heroína. Nada melhor do que o banho que Anthony Bridgerton tomou ao tentar salvar a irmã e o cachorro de Kate.
É o local onde Francesca Bridgerton e Michael Sterling tem uma bela conversa sobre bebês em O Conde Enfeitiçado, também da Julia Quinn. E uma cena muito fofa, apesar de agridoce, em Entre o Amor e a Vingança, da Sarah Maclean, quando eles andam de patins no lago congelado, com metade da sociedade testemunhando o “amor” de Bourne e Penélope. Amo essa cena!
Patinação no gelo no lago Serpentine
Tal atividade chamou minha atenção, pois não é algo muito comum nos livros que li até hoje vermos descrições do Serpentine congelado. Mas em 1830/1831, houve uma temporada de inverno muito forte e seria super possível que o beau monde aproveitasse um dia de patinação no gelo no parque.

A prática era até que bem famosa na Era Regencial e acontecia em vários parques de Londres onde haviam lagos ou canais, nas propriedades do “interior” (interior naquela época sendo alguns bairros da Grande Londres de hoje). As margens dos lagos viraram uma festa, com barracas de castanhas, aluguéis de patins e bancos para calçar os sapatos.
Um fato triste: em 1867 (já na Era Vitoriana) houve uma tragédia no Regent’s Park: o gelo quebrou e centenas de pessoas afundaram nas águas gélidas. Depois disso, a profundidade do lago para a prática ser permitida passou a ser 1,5 metro. Nas décadas seguintes, outras formas de criar pistas de gelo foram encontradas.
Hoje em dia, o Hyde Park tem a Winter Wonderland, um verdadeiro parque de diversões com atrações especiais para a época mais fria do ano. Inclusive, o parque tem o maior ringue de patinação no gelo do Reino Unido! Dei uma volta no Serpentine no verão, mas um dia ainda passearei por lá no inverno 😉
Veja algumas fotos do lago e da patinação no gelo naquela época!
E não esqueça de curtir a página do Costurando o Verbo no Facebook!